E por que, no 8 de março, ainda recebemos tantos clichês de presente?Mal o carnaval terminou e, no lugar do confete, da purpurina e do Oscar, já começamos a receber bombons, rosas e o gosto indigesto de mais um enredo onde uma jovem hipersexualizada desbanca nossos prêmios no cinema.
É chegado ele, 8 de março, o Dia Internacional da Mulher e seus clichês romantizados, mascarando o real sentido da luta e seu legado. Mas e aí, qual o pior que uma mulher já te fez?
Esse é o questionamento que a pesquisadora, atriz e estudante de psicologia Anaterra (
@anaterra.oli) propõe em seu perfil no Instagram. De forma leve e inteligente, ela provoca reflexões e torna visível a disparidade entre a realidade das mulheres e a visão despreocupada dos homens sobre temas que permeiam o universo feminino.
Em um de seus vídeos, ao questionar os entrevistados homens sobre
“o que de pior uma mulher já lhes fez?”, as respostas foram esmagadoramente sobre
traição, “chifre” e mentiras. No entanto, quando a mesma pergunta foi direcionada às mulheres —
“o que de pior um homem já te fez?” —, os relatos foram sobre
feminicídio, violência sexual, abuso, assédio moral, psicológico e físico, emocionando quem compartilhava suas histórias.
Hoje, conteúdos como esse fortalecem o conhecimento e a sororidade entre as mulheres. Com a facilidade de acesso à tecnologia e às redes sociais por diferentes gerações, ainda que carregados de muito “hate” a cada opinião expressada, esses espaços proporcionam familiaridade com nossas vivências e histórias. São nesses diálogos que nos fortalecemos e nos permitimos maior visibilidade e troca sobre determinados temas.
O mercado de trabalhoNo mercado de trabalho, o cenário não é muito diferente. Uma matéria do G1, publicada no Dia Internacional da Mulher do ano passado, trouxe dados atualizados do IBGE apontando que, mesmo mais escolarizadas, as mulheres seguem com menor participação no mercado de trabalho e recebem, em média, 21% menos que os homens, no contexto científico e intelectual, a desigualdade é ainda maior, ganhamos 36,7% a menos que os homens nessa categoria.
Esse retrato fica evidente ao analisarmos o LinkedIn, onde, nas entrelinhas dos posts felizes, podemos perceber essa desigualdade.
Para cada publicação celebrando o posicionamento de uma mulher incrível no LinkedIn, há outras vivendo os desafios diários de conciliar maternidade e carreira, temendo que o filho adoeça ou sendo questionadas em entrevistas sobre “quem vai cuidar dele”.
Há mulheres enfrentando sexismo corporativo, precisando provar diariamente sua capacidade por simplesmente serem mulheres. Há aquelas invisibilizadas por estarem fora do mercado de trabalho e aquelas que, como eu, já sofreram abuso psicológico e sexual, mas não reagiram por medo, vergonha ou pela falta de apoio, tendo suas trajetórias marcadas por gatilhos que reverberam até hoje.