Alerta de conteúdo sensível: este texto contém informações relacionadas a problemas de saúde mental e suicídio. Se estiver precisando de ajuda ou conhecer alguém que esteja, ligue CVV 188, o atendimento fica disponível 24 horas todos os dias.

A chegada do Setembro Amarelo nos lembra da importância de valorizar a vida e reforçar a prevenção ao suicídio. É uma data fundamental para a reflexão, ainda que seja difícil ler, escrever ou até mesmo pensar sobre o assunto.

Não podemos nos omitir diante desse problema. Apenas hoje, no Brasil, mais de 32 pessoas perderão a vida por suicídio, e outras 600 tentarão sem sucesso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 720 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, sendo a terceira principal causa dos jovens de 15 a 29 anos.

Apesar de uma tendência de queda em várias regiões, nas Américas os índices continuam a crescer — e, no Brasil, algumas estimativas apontam um aumento de mais de 45% nesta última década entre a população em geral e de 81% entre adolescentes.

O suicídio é um fenômeno complexo, influenciado por fatores psicológicos, biológicos, etários, sociais, culturais e pelo uso excessivo da internet e redes sociais. Não se trata de fraqueza, infelicidade, falta de fé, pobreza, saúde precária ou apenas doença mental — normalmente, vários fatores estão combinados.


Sabe-se que os jovens entre 15 e 29 anos estão entre os grupos mais vulneráveis, evidência confirmada por diversos estudos acadêmicos. Esse cenário é agravado pela hiperconectividade e pelo uso descontrolado de tecnologias e redes sociais.

Entre os fatores de risco, destacam-se:

* desafios perigosos disseminados na internet,
* propagação de ideias extremistas em jogos e plataformas de comunicação,
* e até mesmo o uso de inteligência artificial em papéis de “amiga” ou “terapeuta”, que, em alguns casos, apresentou falhas graves, chegando a estimular diretamente um jovem a tirar a própria vida.

A família de Adam Raine, de 16 anos, processa a OpenAI, dona do ChatGPT, pelo estimulo que a ferramenta deu ao jovem para o suicídio e sem indicar ajuda especializada ou contatar os pais.
Por isso, é essencial estarmos atentos aos sinais, falarmos abertamente sobre o tema e, sobretudo, buscarmos ajuda profissional qualificada com psiquiatras, psicólogos e médicos.

O impacto do suicídio nos sensibiliza, assusta e nos toca profundamente. Mas é justamente por isso que falar sobre ele com responsabilidade é um passo indispensável para salvar vidas.

Já fui profundamente impactado, de diferentes maneiras, pelo suicídio. No auge da minha adolescência, lembro do choque ao receber a notícia da morte de Kurt Cobain, líder do Nirvana — uma das minhas bandas preferidas até hoje. Em sua carta de despedida, iniciada com o famoso “Para Boddah...” — um amigo imaginário de infância — ele expôs, em tom confessional e melancólico, a dor de lidar com a fama, o sucesso e a pressão. Deixou para trás uma filha recém-nascida e sua esposa.

Poucos meses depois, vivi outra experiência dolorosa: uma paquera da adolescência tirou a própria vida aos 17 anos, em consequência de conflitos familiares e por meio da superdosagem de medicamentos. Sua partida tão precoce ainda marca profundamente a família.

Ao longo da vida, continuei a me deparar com outras situações semelhantes, inclusive com tentativas de familiares, amigos e conhecidos. Isso me ajudou a desenvolver um olhar mais atento para os sinais, e dentro das minhas limitações, procurar acolher e orientar essas pessoas na busca de ajuda profissional.

-> Por que o Setembro Amarelo

O Setembro Amarelo começou nos EUA, quando o jovem Mike Emme, de 17 anos, cometeu suicídio, em 1994.

Mike era um rapaz muito habilidoso e restaurou um automóvel Mustang 68, pintando-o de amarelo. Por conta disso, ficou conhecido como Mustang Mike. Seus pais e amigos não perceberam que o jovem tinha sérios problemas psicológicos e não conseguiram evitar sua morte.

No dia 8 setembro de 1994, às 23:52 da noite, seus pais chegaram em casa e se depararam com uma cena que mudaria a vida de todos para sempre. Mike Emme estava morto dentro de seu tão amado Mustang Amarelo. Ao seu lado um triste bilhete: “Mãe, pai, não se culpem. Eu amo vocês. Com amor, Mike. 11:45 pm”.

No dia do velório, foi feita uma cesta com muitos cartões decorados com fitas amarelas. Dentro deles tinha a mensagem: Se você precisar, peça ajuda.

A iniciativa foi o estopim para um movimento importante de prevenção ao suicídio, pois os cartões chegaram realmente às mãos de pessoas que precisavam de apoio. Em consequência dessa triste história, foi escolhido como símbolo da luta contra o suicídio o laço amarelo.

Em 2003, a Organização Mundial da Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro para ser o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. E o amarelo do Mustang de Mike foi a cor escolhida para representar essa campanha, simbolizada pelo laço amarelo.

Em 2024, numa entrevista os pais de Mike, o descreveram dessa forma:

"Mike tinha 17 anos, era engraçado, se importava com os outros, tocava trompete em três bandas da escola, estava prestes a atingir sua "faixa preta" em TaeKwonDo e adorava trabalhar em Mustangs.

Ele gostava de colocar os carros para voltar a funcionar, correr bem e então poder vendê-los para alguém que quisesse repovoar o mundo com bons carros, para que ele tivesse dinheiro suficiente para comprar outro carro em mau estado e reconstruí-lo como os anteriores.

Então ele gostava de música, amigos, "malhar" e carros (Mustangs). Ele tinha um talento especial para fazer as pessoas se sentirem melhor e podia comer uma caixa inteira de cereal só de lanche. "

-> O suicídio no meio corporativo

O mercado corporativo também não está imune à tragédia do suicídio. Um dos casos mais notórios foi o da France Télécom, onde sete executivos foram condenados por serem responsabilizados pelo suicídio de 35 funcionários em decorrência de assédio moral.

Outro exemplo marcante ocorreu na Foxconn, fornecedora de grandes marcas de eletrônicos como Apple, Sony e Nokia. Em menos de três semanas, em 2013, três trabalhadores tiraram a própria vida. Já em 2010, ao menos 14 funcionários morreram por suicídio, relacionados a jornadas excessivas de trabalho e condições laborais extremamente duras. Isso só para citar alguns casos, porque basta procurar no Google por "casos de suicido em empresas" e a lista é bem maior que o citado.

Mais recentemente, após a pandemia, estudos têm mostrado uma tendência preocupante de aumento nos casos. Uma pesquisa realizada pela Mental Clean identificou um crescimento de mais de 367% nos relatos de pensamentos e tentativas suicidas em ambientes corporativos no ano de 2023.

-> A lei ficará mais dura para as empresas com a mudança da NR-1

A partir de 2026, a NR-1 passará a incluir de forma obrigatória os fatores de risco psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). Entre eles estão:

* estresse ocupacional,
* sobrecarga de trabalho,
* pressão por metas,
* assédio moral,
* conflitos interpessoais, entre outros.

Esses riscos deverão ser identificados, avaliados, controlados e monitorados com o mesmo rigor aplicado aos riscos físicos, químicos, biológicos e ergonômicos, conforme já previsto em normas como a NR-17.

A nova redação também reforça a participação dos trabalhadores no processo, seja por meio da CIPA ou de outros canais formais de escuta e engajamento.

Além disso, as empresas deverão:

* elaborar um inventário de riscos psicossociais,
* definir e executar um plano de ação,
* realizar o monitoramento contínuo ao longo do tempo,
* manter o registro das medidas adotadas e avaliar a eficácia das ações implementadas.

-> O que fazer para mitigar os problemas além da NR-1?

* Atuar continuamente além do mês de setembro
* Estabelecer canais, protocolos e treinar as equipes para encarar o problema
* Monitorar o ambiente de trabalho e a segurança psicológica continuamente
* Crie programas continuados de saúde mental com profissionais qualificados
* Combata ativamente práticas de assédio moral e sexual.
* Monitore a jornada de trabalho excessiva
* Invista continuamente na formação da liderança
* Invista numa cultura corporativa com segurança psicológica

-> O que não fazer


* Fechar os canais de comunicação para o problema
* Demorar para atuar em caso
* Não atuar em caso de despreparo ou insegurança. Chame ajuda.
* Tratar sem diagnóstico clinico e ajuda profissional
* Tentar causar o famoso "choque de realidade" ou se usar como referência
* Uso de bebidas ou drogas como alternativas

-> Como podemos ajudar


A Diverti.io é a plataforma digital que apoia empresas no acompanhamento das métricas de segurança psicológica, no atendimento aos parâmetros da NR-1, no
desenvolvimento de líderes e equipes, além de contribuir para a organização e fortalecimento da cultura corporativa. Contamos com consultorias especializadas em múltiplos temas para apoiar o seu negócio.

-> Referências

700 mil pessoas cometem suicídio por ano

Taxa de suicídio cresce 43% na década no Brasil

Por que a vida tem perdido sentido aos jovens?

Entrevista com pais de Mike Emme

Caso France Telecom

Uso excessivo de internet e piora da saúde mental de jovens

Plataformas de IA recebem processos por suicídio


✍️ Conteúdo original criado por Emerson Silva, revisado com apoio de IA!#CULTURACORPORATIVA #IA #SEGURANCAPSICOLOGICA #DIVERTITECNOLOGIA




Emerson Silva

CEO

Empreende, palestra, investe e atua com tecnologia a mais de 30 anos.
Especialista em performance, equipes, diversidade e impacto.
Fundador, CEO da Diverti Tecnologia e autor desse post.