O anti-WOKE e o futuro do DEI

Nos últimos anos, o movimento WOKE tem sido alvo de críticas, recebido cortes em investimentos e esvaziamento de suas pautas em diversas empresas nos EUA.

O termo WOKE ("acordado") ganhou destaque após as manifestações globais que seguiram o assassinato de George Floyd por policiais, embora sua origem remonte à década de 1930, quando era utilizado nas comunidades negras norte-americanas como uma "gíria" contra injustiças sociais.

O renascimento do termo trouxe um olhar mais crítico e enérgico sobre questões como assédio sexual, a violação dos direitos das mulheres, da comunidade LGBTQIAP+, o aumento da violência policial, a concentração de renda, a precarização do trabalho, a imigração em massa e o aumento da pobreza no país mais rico do mundo.

Esse despertar teve reflexos no mundo corporativo, onde empresas rapidamente estruturaram programas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) para responder às demandas sociais, responder ao momento e evitar crises de imagem.
Contudo, muitas grandes empresas ao redor do mundo têm encerrado tais programas, e, com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, espera-se uma aceleração desse movimento já que muitas delas tem o governo como um dos principais clientes.
Assim, surge a questão: qual será o futuro dos programas de DEI?

Reflexões sobre o futuro do DEI

Apesar das dificuldades atuais, é importante lembrar que a consciência sobre essas questões sociais não é recente. Grupos historicamente marginalizados possuem um legado de luta e resiliência que antecede o "hype" em torno do tema.

Mesmo sem o apoio de grandes capitais, esses movimentos sempre encontraram formas de resistir e avançar.
Além disso, vários fatores foram subestimados nesse abandono corporativo do DEI:

- A chegada das gerações Z e Alpha ao mercado de trabalho e ao consumo
Essas gerações possuem valores mais alinhados à inclusão e diversidade, influenciando a forma como as empresas atuam. A compra por identidade e causa pesam na decisão dessa geração assim como movimentam fortemente às redes sociais.

- O aumento continuo dos usuários de redes sociais
As redes sociais tem movimentado bilhões de seguidores em suas plataformas
e elas possuem forte apelo identitário aos seus usuários propagando e moldando novos comportamentos e tecnologias.

- A Ásia como novo centro econômico, industrial e o nascimento de novos blocos econômicos
Trará novas dinâmicas às relações de trabalho, consumo e concorrência.

- A globalização da cultura negra
Isso cria maior visibilidade, cria novos itens para exportação e gera valorização das culturas historicamente marginalizadas que ganham o potencial com a venda identitária.

- Mudanças demográficas
O impacto do envelhecimento populacional e a crescente diversidade étnica influenciarão as políticas corporativas no longo prazo.

- As mudanças climáticas
Pressionarão ainda mais os movimentos migratórios que afetarão ainda mais as demografias das regiões receptoras desse fluxo.

No meio corporativo, haverá busca da racionalidade e vislumbro quatro cenários principais para os programas de DEI:

1. Programas anêmicos (Diversity Washing)
Empresas com programas imaturos ou superficiais possivelmente deixarão de priorizar o tema ou até eliminarão completamente essas iniciativas.

2. Programas robustos
Empresas que investiram em programas sérios colherão frutos de sua diversidade cognitiva, fortalecendo a inovação, a tomada de decisão e os objetivos de ESG (Environmental, Social, and Governance).

Exemplos incluem Apple, Natura, Spotify e Rede Globo, entre outras. Essas empresas continuarão usando o DEI como diferencial competitivo sendo inclusive referência para a concorrência.

3. Iniciativas mais efetivas
Empresas que estão no início da jornada buscarão soluções mais racionais e orientadas por dados, reduzindo as emoções nas tomadas de decisões para adotar medidas que realmente movam o ponteiro corporativo.

4. Empresas fundadas por grupos minoritários
A expansão de negócios liderados por mulheres, negros, latinos e LGBTQIA+ está redesenhando o mercado.

Nos EUA, por exemplo, metade das novas empresas são fundadas por latinos e seus descendentes. No Brasil, mulheres e negros têm se organizado em redes como o Grupo Mulheres do Brasil e o Movimento Black Money.

Conclusão

Os programas de DEI seguirão existindo por se tratar de dores reais e pode ser um forte diferencial competitivo, mas será exigido maior maturidade e assertividade nas ações.

Empresas precisarão adotar posturas mais racionais, com foco em dados e resultados mensuráveis.

Além disso, o protagonismo de grupos minoritários e as novas dinâmicas econômicas e sociais continuarão desafiando o status quo, impulsionando uma evolução sustentável do tema no mundo corporativo.

Saiba mais:

O que é WOKE e por que o termo gera uma batalha cultural e política nos EUA
Latinos nos EUA: a quinta maior economia do mundo?
Grupo Mulheres do Brasil
Movimento Black Money
Fundos ESG enfrentam piores resgates de todos os tempos

Emerson Silva

CEO

Empreende, palestra, investe e atua com tecnologia a mais de 30 anos.
Especialista em performance, equipes, diversidade e impacto.
Fundador, CEO da Diverti Tecnologia e autor desse post.