Essa semana tive uma excelente conversa com o
Jhonatas Faria sobre times, exponencialidade e culturas que realmente impactam resultados.
Falamos, sobretudo, sobre como tivemos a oportunidade de vivenciar esse tipo de ambiente ao longo das nossas trajetórias e o quanto isso moldou nossa forma de pensar negócios.
O Jhonatas acabou de voltar dos EUA, direto do
AWS re:Invent, e trouxe uma série de insights práticos sobre o uso de
IA que, sem dúvida, vão tornar nossa vida mais fácil — especialmente na indústria de software.
Redução de atritos, menos dependências e ganho de eficiência interna são benefícios reais. Um baita avanço.
Mas aqui vai o ponto central:
isso não é diferencial competitivo por si só. Tanto eu quanto ele estamos hoje envolvidos em projetos que buscam “exponencializar” negócios — e nenhum deles nasceu simplesmente porque estamos usando IA. Eles surgiram daquilo que já vivemos, observamos e entendemos profundamente sobre o mercado, seus problemas reais e suas dinâmicas.
Uma das principais concordâncias da nossa conversa foi direta: I
A sem pessoas capazes de usar, questionar e interpretar é desperdício de tempo e de qualidade. Esse uso raso gera o que já vem sendo chamado de
Work Slop — entregas volumosas, porém superficiais, que aumentam o retrabalho. Pesquisas recentes mostram que isso já está afetando a
produtividade de 77% dos profissionais, segundo matéria da Forbes.No meu caso, a produtividade pessoal aumentou significativamente — algo em torno de
700% — com o uso de IA. Mas isso só foi possível porque tenho
fundamentos sólidos e experiência prática em desenvolvimento de software. A IA amplificou competências que já existiam; ela não as criou do zero.
É por isso que reforço tanto a importância de olharmos com mais cuidado para
juniores e profissionais em formação. Precisamos formar pessoas com base técnica, pensamento crítico e fundamentos bem estruturados, capazes de extrair o melhor dessas tecnologias e gerar eficiência de forma sustentável.
No mundo real, você não colocaria um campeão de
Counter-Strike para liderar uma equipe policial em missões críticas. As habilidades não se transferem automaticamente. Mas, curiosamente, é exatamente isso que estamos fazendo quando colocamos IA nas mãos de profissionais sem preparo adequado — e esperamos resultados exponenciais.
Não faz sentido. E a conta — em retrabalho, frustração e perda de produtividade — já começou a chegar.
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Então, o que fazer para crescer em 2026? Priorizar e usar a única alavanca que, de fato, tem funcionado nas últimas décadas:
as pessoas certas, nas culturas certas.Simples. Objetivo. E poderoso.
Essa combinação é o que sustenta decisões melhores, cria produtos relevantes e constrói negócios resilientes.
A
AWS nasceu assim.
Andy Jassy, amparado pelos princípios de liderança da cultura Amazon, percebeu a ociosidade dos servidores internos e teve liberdade — e responsabilidade — para aplicar conceitos de
cloud computing. O resultado foi a criação de um novo produto que se tornaria um dos negócios mais lucrativos da história da empresa.
O ponto nunca foi ter mais pessoas. Foi ter
as pessoas certas. No início dos anos 2000, após o estouro da bolha das empresas de internet, a
Netflix — então um serviço de aluguel de DVDs por correio — viu seu financiamento de capital de risco ser drasticamente reduzido. Diante disso,
Reed Hastings tomou uma decisão difícil: reduzir o time de 120 para 80 pessoas.
Não foi um corte cego. Foi uma curadoria rigorosa. Cada colaborador foi avaliado com foco em excelência, impacto e aderência cultural.
O resultado surpreendeu. A performance da empresa não caiu —
a produtividade e a inovação aumentaram. A equipe remanescente tornou-se mais engajada, mais responsável e mais eficaz.
Dali nasceu a cultura de
Liberdade com Responsabilidade, descrita por
Patty McCord no livro
Powerful. Uma cultura que contaminou o Vale do Silício e ajudou a criar a indústria global de streaming.